Com a crescente polarização política das sociedades ocidentais - fenómeno a que não escapa a sociedade portuguesa, ainda que, como habitualmente, aqui a coisa se faça sentir de forma mais tardia e mitigada - o recurso ao insulto para descredibilizar os adversários políticos, ou simplesmente qualquer pessoa que não concorde com as ideias que se pretende transmitir, tornou-se cada vez mais comum. E já chega a ser banal, o que é inaceitável no quadro de uma sociedade civilizada.
Mais do que a questão jurídica das eventuais injúrias e difamações, está em causa uma questão de princípio, de civilidade e de boa educação.
Há por outro lado que ter em conta que a mesma palavra pode ser um insulto ou um elogio, consoante aquilo que efectivamente queira dizer. Exemplificando:
- Se me chamarem racista querendo com isso dizer que discrimino pessoas em função da cor da sua pele, isso é claramente um insulto; já se para ser chamado de racista bastar ser contra a destruição de monumentos históricos e contra a diabolização do homem branco e da civilização ocidental, então é um elogio.
- Se me chamarem fascista querendo com isso dizer que apoio a instauração de qualquer tipo de ditadura de direita, então é um insulto; mas se para ser chamado de facista bastar ser contra a difusão e banalização das ideias da extrema-esquerda, então é um elogio.
- Se me chamarem xenófobo querendo com isso dizer que preconizo o ódio contra os estrangeiros e os quero todos fora de Portugal, isso é obviamente um insulto, mas se me chamarem isso apenas por defender que a concessão de vistos e autorizações de residência, naturalizações, etc., devem ser concedidos com cautela e com critério e não às três pancadas, então é um elogio.
- Se me chamarem comuna querendo com isso dizer que advogo a instauração de um regime totalitário de esquerda, isso não pode deixar de ser um insulto, mas se para ser chamado de comuna bastar defender ideias como a progressividade dos impostos ou o aumento do salário mínimo, então é certamente um elogio.
E assim por diante, o exemplos poderiam ser muitos.
Por estas e por outras razões, saber se um determinado epíteto é um insulto ou um elogio depende muito da respectiva origem.
Assim, regra geral, se alguém nos chamar uma coisa destas devemos ficar preocupados e procurar perceber porque estaremos (eventualmente) a transmitir uma tal impressão.
Já se o autor da afirmação for um revolucionário, seja de esquerda ou de direita, podemos sorrir e ficar tranquilos: significa apenas que estamos no caminho certo.