quarta-feira, 28 de outubro de 2020

Marcelo, o Presidente Sol

    Luís XIV foi o percursor do absolutismo em França, e ficou conhecido como o Rei Sol.

    Marcelo Rebelo de Sousa foi eleito à primeira volta com uma vitória esmagadora, sem oposição de relevo.

    Eleito num contexto de geringonça, contava-se que fosse o contra-poder necessário a um governo com uma base de apoio parlamentar demasiado vincada à esquerda.

    Teve um bom início de mandato, tendo tido uma actuação decisiva na tragédia de Pedrogão Grande, e nos incêndios em geral, impedindo que o Governo desvalorizasse a tragédia e abordasse o problema de frente, tomando as medidas necessárias.

    E esteve novamente à altura da situação quando surgiu a pandemia, dirigindo-se à nação em termos adequados e tomando a iniciativa de despoletar o processo de declaração do Estado de Emergência.

    Tudo levava a crer que um presidente com tamanha popularidade, força e experiência política fosse efectivamente o contra-peso necessário à geringonça.

    Infelizmente, a recente "pré-crise política" que se gerou à volta da discussão do orçamento de estado para o próximo ano deixou claro o quanto o Presidente se foi, progressivamente, rendendo à geringonça.

     As declarações públicas de Marcelo Rebelo de Sousa, no sentido de que as esquerdas teriam que se entender porque um bloco central não seria uma solução admissível (inviabilizando assim a estratégia do PSD de aproximação ao PS, de modo a não o deixar refém da extrema esquerda) ao mesmo tempo que pressionou o PSD a permitir a aprovação do orçamento constituem uma interferência presidencial na vida parlamentar e partidária que não teria sido permitida (quer pelos partidos, quer pela comunicação social) a qualquer outro Presidente. Pense-se no que seriam os protestos que teriam tido lugar se tivesse sido, por exemplo, Cavaco Silva a proferir esse tipo de declarações enquanto Presidente da República.

    A reeleição de Marcelo Rebelo de Sousa tem parecido um dado adquirido, tendo em conta a não apresentação de outros candidatos nas áreas políticas do PSD, CDS (que erradamente consideram Marcelo Rebelo de Sousa como o seu candidato, e/ou não encontram candidato alternativo) e PS (este sim, clara e compreensivelmente satisfeito com o actual Presidente).

    Mas parece-o menos hoje do que já pareceu ontem, mostrando as sondagens uma consistente perda de intenções de voto, e não sendo sequer certa a sua candidatura que, relembre-se, não foi ainda formalizada.

    Nuno B. M. Lumbrales
    

    

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