I Ato - A necessidade
Chega sempre o dia em que o país precisa de nós. Eu não descarto que chegue o dia dos profissionais de seguros na área de marketing de produto cumprirem o seu sacrifício pátrio. Mas o mais provável é que continue a tocar a militares, forças de segurança, profissionais de saúde, proteção civil e em suma todos os que são necessários à linha da frente da satisfação das necessidades de uma sociedade numa lógica ao estilo de Maslow. E a verdade é que tenho sempre a sensação de que a Pátria se comove a ver partir tropas para a linha da frente. Lenços assomam à janela, correm lágrimas, sopram-se beijos, batem-se palmas. Há genuína comoção mas também há inconfesso alívio do "antes ele do que eu" no momento de ir chafurdar no lodo. Até aqui tudo normal, faz parte e estes momentos fazem-se de vocações, compromissos, sacrifícios, balas que assobiam e a álea dos que vão e os que ficam, os que sobrevivem e os que não.
II - O sinalagma
É a consequência exigível e de justiça elementar. Mas também diz o povinho que quem paga adiantado é mal servido. Aqui é ao contrário mas dá no mesmo. O Estado paga mal a quem o serve adiantado e mais uma vez adiantado o sinal em palmas palavras e condecorações a Res Pública faz o manguito ao reconhecimento de um sacrifício de classe. Costumo discutir com outro dos membros deste blog se o Estado é pessoa de bem. Ele ironiza sempre que "Obviamente que não!". E na verdade não é de pessoa de bem pagar só a quem não fia, a quem nos põe a faca ao peito de argumentos de casta, castas de alta finança, castas sindicais com poder de mobilização. Porque quando só pagamos a quem nos pressiona às tantas só não pagamos a quem devemos e isso não é de pessoa de bem e se o Estado somos todos nós então estamos todos mal na fotografia quando somos uma Sociedade incapaz de ser grata aos que chafurdam por todos.
III - Questões políticas
Porque é que o PS bloqueia o reconhecimento? Bom a resposta é mais ou menos óbvia, a massa não estica. E por isso coloca-se uma questão mais complexa: porque é que o PS sacrifica o SNS que é vital e até popular e continua a manter mortes cerebrais ligadas ao ventilador dos milhões? E eu sei que a resposta é muito complexa com muitos espartilhos de decisão e culpas de muitas cores no cartório mas ainda assim deviam tentar explicar-nos.
Porque é que a Direita se abstém? A abstenção às vezes é uma matreirice política de ir à boleia de uma onda que leva para a nossa praia sem termos que nos desgastar a remar.
Será que a Esquerda que propõe sabe onde se desencantaria a massa?
(...) e uma reflexão
Esta questão do SNS é uma concretização de uma questão maior que eu tenho. A de uma reflexão que tem que ser económica e financeira - porque a massa não estica - mas que é também ética e filosófica sobre questões salariais (ou talvez de uma forma mais ampla sobre questões de devolução de valor) numa sociedade que tem seriamente que refletir sobre os contratos sinalagmáticos com os que cuidam da sociedade. E a Lei do Mercado - quer no sentido de oferta e procura - quer no sentido do mama quem chora e mama quem põe a faca ao peito - é evidentemente inepta à melhor justiça.
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