quinta-feira, 13 de agosto de 2020
ERRATA ou como corrigi a minha opinião sobre a Festa do Avante
Sou dos que acharam vergonhoso que o Avante fosse avante (ah ganda trocadilho). A impressão era óbvia: falta de decoro político a aproveitar a brecha legal do estatuto de evento político. E na altura até ironizei que o Avante deste ano então teria que ser apenas um evento político. É que a Festa do Avante tem duas dimensões: a da política, certamente. Mas também a enorme vertente lúdica que lhe dá expressão em que já não é política mas apenas um festival de verão com a particularidade de quase todos terem ideias políticas semelhantes. E por isso nada de concertos nem petiscos, que a coisa fosse apenas pelos discursos e pela banca com os panfletos de Cuba.
E na altura senti-me porreiro com a minha vocação. Senti-me honesto e isento: a bater nuns tipos com os quais discordo em muito mas pelos quais nutro uma certa simpatia. Capaz de protestar ao lado dos muitos que conheço dos quais discordo em muito mais, mesmo sabendo que protestavam mais por facciosismo, o que quer dizer que protestariam mesmo sem razão nenhuma.
Só que fiz o que devemos sempre fazer. Li mais sobre o assunto.
https://eco.sapo.pt/2020/08/11/prova-dos-9-os-festivais-nao-estao-proibidos-e-a-festa-do-avante/
E por isso mudo de opinião.
Não há discriminação positiva para o Partido Comunista assim como não é verdade que os eventos análogos estejam proibídos. O que há é racionais de modelos de negócio completamente diferentes. Os produtores de eventos que precisam de rentabilizar cartazes de luxo com enormes receitas não têm viabilidade, o Partido Comunista, a jogar em casa, com a sua logística de mão-de-obra voluntária e cartazes bem mais em conta e - provavelmente - em alguns casos, engagés tem viabilidade mesmo que seja um ano atípico no desequilíbrio entre despesas e receitas.
Não há falta de decoro e nem vale a pena inflamar argumentos passionais de que este ano alguns não puderam enterrar os seus e outros continuam com negócios fechados. Isso é conversa boa para vox populi de café e rede social mas não faz sentido num debate esclarecido sobre este tema - podemos é conversar sobre a pertinência de muitas decisões táticas ao longo dos meses - mas aí o tema é outro.
A Festa do Avante é legítima e a Direita está a fazer circo político de desinformação e populismo porque se eu me posso dar ao luxo de dizer uns disparates antes de me informar, o Marques Mendes não pode...
Agora dito isto acho é outra coisa...
Acho muito difícil que a Festa do Avante - como aliás qualquer ajuntamento de massas - possa assegurar grande ou seguro distanciamento...
E por isso recuso-me a alinhar na demagogia de que a realização da festa é uma pouca vergonha mas acho altamente provável que daqui a uns dias venha comentar que a realização da festa foi uma pouca vergonha.
Esperemos para ver...
Rui Pedro Azevedo
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